segunda-feira, 29 de junho de 2015

Cartas que Henrique escreveu para Ana Bolena [3º e última Parte]

Cartas que Henrique escreveu para Ana Bolena [3º e última Parte]

A violência da paixão de Henrique VIII por Ana Bolena é comprovada pela sequência de cartas de amor que ele escreveu para ela. Todas são manuscritas. Ao todo, existem 17 cartas As respostas de Ana Bolena às cartas desapareceram por completo. Sem dúvida- uma vez mais por motivos de segurança – o rei destruiu-as. Como foi dito, as cartas foram traduzidas do francês para o inglês, e depois eu* as traduzi do inglês para o português. Com isso, é claro que muitas palavras tiveram sentidos mudados ou tenham tido interpretações diferentes.
Querida,do fundo do coração eu me entrego a você, lhe confirmando que não estou um pouco perplexo com tais coisas que seu irmão há de dizer a você em meu nome, para o qual eu rezo, você acredite, pois era muito para escrever. Em minhas últimas cartas eu escrevi para você que acreditava que a veria em breve, o que é mais conhecido em Londres do que qualquer outra coisa sobre mim, onde quer que eu não fosse eu não estaria nem um pouco assombrado; mas a falta de movimentação discreta necessária podem ser a sua causa. Não mais para você neste momento, mas eu confio que em breve nossos encontros não deverão depender de entregas discretas de outros homens, mas de nossas próprias.
Escrito pela mão daquele que anseia em ser seu.
H.R.
Minha doce amiga. Esta é para dizer-vos o grande tormento que sofro desde a vossa partida, pois eu vos firmo que o tempo me parece agora mais longo do que me eram antes duas semanas inteiras. Eu penso que a vossa bondade e o zelo do meu amor são a causa disso, porque de outra forma não acreditaria que uma breve ausência me pudesse dar tanta pena. Mas agora que venho ao vosso encontro,a minha dor quase desapareceu, e estou também todo reconfortado pois hoje passei mais de quatro horas a trabalhar no meu livro, feito essencialmente para expor a minha opinião, o que me obriga a escrever-vos desta vez mais brevemente porque tenho um pouco de dor de cabeça.
Com o desejo de estar (especialmente de noite) nos braços da minha querida e de beijar dentro em pouco os seus lindos seios, escrita pela mão daquele que foi, é e sempre será por sua vontade sempre vosso.
H.R.
Querida, apesar de eu ter raros tempos livres, eu ainda me lembro de minha promessa, e eu pensei que fosse conveniente certificar-te brevemente aonde que andam os nosso assuntos. Tocando no assunto de um alojamento para você, nós temos um usado pelo meu senhor cardeal, igual a um não poderia ser encontrado aqui, assim como o entregador há de lhe mostrar. Tocando nos outros assuntos, eu te asseguro que nada mais pode ser feito, nem mais diligência utilizada, nem todos os tipos de perigos melhor previstos e munidos, de modo que eu confio que logo serão para o nosso conforto, as especialidades da quais são muito longas para serem escritas, e dificilmente declaradas pelo entregador. Portanto, até você se dirigir para aqui perto, eu mantenho algumas coisas no armazém, confiando que não serão por muito tempo, porque eu suponho que mylorde, seu pai, faça suas provisões com rapidez. e assim por falta de tempo, querida, eu faço um fim de minha carta, escrita com a mão daquele que é seu,
O pedido razoável de sua última carta, também com prazer que eu levo para entender que elas são verdadeiras, leva-me a enviar esta carta. O Legado que tanto desejamos, chegou a Paris domingo ou segunda-feira passada, de modo que espero saber segunda-feira próxima de sua chegada a Calais, e então espero dentro de um tempo aproveitar o que eu por tanto tempo ansiava, pela graça de Deus e nosso conforto. Não mais para você agora, minha querida, por falta de tempo, mas eu queria que você estivesse em meus braços, ou eu nos seus, porque parece-me tanto tempo que não vos beijo. Escrita depois de ter matado um cervo, às onze horas em ponto, na esperança de poder, com a ajuda de Deus, matar outro amanhã. Pela mão daquele que, espero, será em breve vosso.
H.R.
Quero dizer-vos quanta alegria sinto sabendo que cedestes à razão e com o freio desta reprimistes todos os vossos inúteis pensamentos e vãs fantasias. Asseguro-vos que todos os bens do mundo não valeriam para mim a satisfação que me dá esta notícia e certeza. Por isso, minha boa amiga, continuai assim, não só nisso, mas em tudo que fizerdes de agora em diante, porque daí advirá para nós ambos a maior tranquilidade que possa haver no mundo.
A razão pela qual o entregador demorou tanto, é por causa dos apetrechos que estou enviando para você, e, que eu acredito, não demorarão muito para que você os use, o que será a recompensa suficiente para mim por todas as minhas dores e trabalho. A falsa enfermidade deste bem – acaso o legado retarde um pouco o acesso à sua pessoa; mas eu acredito verdadeiramente, que quando Deus enviar-lhe saúde, ele irá com diligência recompensar a sua dúvida. Pois eu sem bem onde ele tem dito (tocando no ditado e boato que diz que o pensamento dele é imponente) será conhecimento pela questão de que ele não é imponente, por falta de tempo, querida, me despeço de você.
Escrito pela mão daquele que seria de bom grado seu, assim como seu coração,
H.R.

Cartas que Henrique VIII escreveu para Ana Bolena [2º Parte]

Cartas que Henrique VIII escreveu para Ana Bolena [2º Parte]

A violência da paixão de Henrique VIII por Ana Bolena é comprovada pela sequência de cartas de amor que ele escreveu para ela. Todas são manuscritas. Ao todo, existem 17 cartas. As respostas de Ana Bolena às cartas desapareceram por completo. Sem dúvida- uma vez mais por motivos de segurança – o rei destruiu-as. Como foi dito, as cartas foram traduzidas do francês para o inglês, e depois eu* as traduzi do inglês para o português. Com isso, é claro que muitas palavras tiveram sentidos mudados ou tenham tido interpretações diferentes.
Minha querida, esta é só para informar-vos de que o portador e o seu companheiro são enviados com tudo aquilo que se pôde imaginar necessário para o bom êxito do nosso caso, e para trazer isso para transpor quanto nossa inteligência pode imaginar ou inventar; o que venha a acontecer, como espero, pela diligência deles, que será em breve, eu e você teremos o nosso fim desejado, o que deve trazer mais alívio para o meu coração, e tranquilidade para a minha mente, do que qualquer coisa no mundo; com a graça de Deus, eu confio que logo isso deverá ser provado, mas não cedo quanto eu gostaria que fosse, mas eu ainda te asseguro que não haverá tempo perdido que possa ser vencido, e ainda não pode ser feito, por ultra posse non est esse*.
Mantenha-o não muito tempo com você, mas desejo-o, por vossa causa, para fazer isso mais rápido, pois quanto mais cedo termos a palavra dele, mais cedo nosso assunto irá para o passado. E, assim, em cima da confiança de sua vinda rápida para Londres, eu faço um fim à minha carta, meu próprio doce coração.
Escrita pela mão daquele que quer tanto ser vosso quanto possais desejá-lo,
H.R.
* Não se poder fazer mais do que é possível.
Chegaram repentinamente no meio da noite as notícias mais afligentes que me poderiam ter chegado.
Primeiro, de ouvir da doença de minha Senhora, a quem estimo mais do que todo o mundo, e cujo estado de saúde eu desejo fazer como a minha própria, de modo que eu teria o maior prazer em suportar metade de tua doença para que você ficasse melhor.
Segundo, do medo que tenho de ser ainda mais assediado pelos meus inimigos. A ausência, muito longa, têm me dado até agora todo o mal-estar possível, e tanto quanto posso julgar está determinado a me irritar mais, porque eu rezo a Deus para me livrar desse incômodo algoz.
Terceiro, porque o médico em quem eu tenho mais confiança está ausente no exato momento em que ele poderia me dar o maior prazer; porque eu deveria esperar por ele e seus meios para obter uma das minhas maiores alegrias da terra – que é cuidar da minha Senhora – mas por falta dele eu vos envio o meu segundo, e espero que em breve ele irá fazer-lhe bem. Eu irei amá-lo mais que nunca.
Rogo-vos que siga os seus conselhos na sua doença. Espero logo te ver de novo, o que será para mim um conforto maior do que todas as pedras preciosas do mundo.
Escrito por aquele secretário, que é, e sempre será o seu servo mais fiel e assíduo,
H.R.
As minhas dúvidas sobre o seu mal-estar e sua saúde perturbaram-me e assustaram-me muito, e eu não tive nenhum momento tranquilo até ouvir boas notícias. Mas agora, já que você ainda não sentiu nada, eu espero, e estou certo, de que isso poupará você, assim como está poupando-nos. Pois, quando estávamos em Walton, dois porteiros, dois criados particulares, o tesoureiro-mestre e seu irmão ficaram doentes, mas agora estão muito bem, e já voltamos a nossa casa em Hunsdon, temos estado perfeitamente bem; neste momento não há nenhuma pessoa doente, Deus seja louvado, e eu acho que, se você se retirar de Surrey, como nós, irá escapar de todo o perigo. Há outra coisa que posso confortá-la, é que, neste tempos de enfermidade, poucas mulheres ficaram doentes, nenhuma delas da corte, e poucas de outros lugares morreram. Razão pela qual peço-vos, minha querida, que não vos amedronteis e não vos aflijais muito coma nossa ausência. Porque, onde quer que eu esteja, sou vosso; e contudo devemos algumas vezes submeter-nos às nossas desgraças; pois quem quer combater contra o destino geralmente não atinge o seu escopo; por consequência consolai-vos e tomai coragem, e fazei que este infortúnio vos seja tão leve quanto possível, e eu espero que muito em breve poderei fazer você cantar la renvoyé.
Sem mais demora, por falta de tempo, mas que gostaria que você estivesse em meus braços, para que eu possa dissipar um pouco seus pensamentos irracionais.
Escrito pela mão de quem é e sempre será seu,
H.R. – imutável.
Décima Carta:
A causa de minha escrita, neste momento, querida, é só para saber da sua boa saúde e prosperidade, e do qual eu queria muito saber da minha própria maneira, rezando a Deus (que seja a Sua vontade) para nos deixar juntos em breve, e eu te prometo e espero por isso. Como seja, eu confio que não será por muito tempo que minha querida estará ausente, não posso fazer menos do que mandar-lhe carne, que representa o meu nome, o que, para Henrique, é carne de cervo, esperando que depois disso, se Deus quiser, tomareis gosto pela minha, e eu bem quisera que, se isso lhe aprouvesse, fosse desde já.
Tocando no assunto sobre sua irmã, eu pedi a Walter Welzer para escrever para meu senhor, minha mente que está aí, onde eu confio que Eva não têm poder para enganar Adão, pois certamente, independente do que foi dito, ele não pode ficar assim com sua honra, mas ele deve necessariamente levar ela, sua filha natural, agora em sua extrema necessidade.
Não mais para você neste momento,
minha única querida, com um desejo que estaremos juntos uma noite.
H.R.
Desde suas últimas cartas, minha querida, Walter Welshe, Mestre Browne, Thos. Care, Grion de Brearton e John Coke, o boticário, pela queda do suor nesta casa, e, graças a Deus, todos estão bem-recuperados, de modo que a praga ainda não deixou totalmente este lugar, mas eu acredito que em breve deixará. Pela misericórida de Deus, o resto de nós ainda está bem, mas eu acredito que iremos passar por isso, e se ainda não passamos totalmente, pelo menos passamos mais facilmente do que o resto.
Tocando na questão de Wilton, meu senhor cardeal tinha as freiras diante dele, e examinou-as, Sr. Bell estava presente; e me certificou de que, de verdade, ela confessou por si mesma (pela qual nós tínhamos a madre-superiora) que teve dois filhos de dois padres diferentes, e ainda, que tinha sido escondida por um servo de Lorde Broke, e não muito tempo atrás.
Portanto, eu não iria, por todo o ouro do mundo, embaraçar a sua consciência nem  a minha para fazer dela governadora de uma casa, sendo que têm um comportamento tão terrível; estou certo de que você não iria querer que por um irmão ou uma irmã eu desprezasse assim minha honra ou consciência. E, tocando na madre-superiora, ou irmã mais velha da dama Eleanor, embora não há nenhum caso evidente de provas contra eles, e que a madre-superiora é tão velha que por muitos anos ela não poderia ser como ela está sendo nomeada; e nem mesmo com o direito, de lhe dar alegria! Nenhum deles deve ter feito algo, mas que alguma outra mulher boa e bem-disposta deve, segundo o qual a casa deve ser bem reformada (do qual eu posso garantir-lhe que têm muita necessidade), e Deus, muito melhor servido.
Tocando no seu domicílio em Hever, faça lá como melhor gostar, para seu melhor conhecimento, acaso o ar melhore você; mas eu gostaria de que isso viesse para cá também (se aprouver Deus), que nenhum de nós precisa de cuidados para isso, para qual eu a garanto por muito tempo.
O procurador caiu doene do suor, e portanto, eu lhe envio este portador, porque eu acho que você deseja ouvir notícias de nós tanto quanto nós gostaríamos de ouvir de você.
Escrito pela mão de votre seul,*
H.R.
* De seu único
A aproximação do tempo que eu tanto esperei me alegra tanto, que parece quase já ter chegado. No entanto, a realização completa não poderá ser feita até duas pessoas se encontrarem, cujo encontro é mais desejado por mim do que qualquer coisa neste mundo, porque não existe alegria maior na terra do que ter a companhia daquela que é caro para mim, sabendo também que ela sente o mesmo, o pensamento me dá o maior júbilo. Julgando o efeito da presença dessa pessoa teve em mim, cuja ausência têm entristecido meu coração mais do que as palavras ou a escrita pode expressar, e que nada pode me curar, mas eu lhe imploro, minha Senhora, para dizer ao seu pai de mim, que eu desejo que ele apresse o tempo determinado por dois dias, para que ele possa estar na corte antes do tempo determinado, ou, o menos distante possível, no dia prefixado, pois caso contrário eu acharei que ele não fará a reviravolta do amante, como ele disse que faria, sem responder às minhas expectativas.
Sem mais no momento, por falta de tempo, esperando que em breve eu lhe direi o resto dos meus sofrimentos por sua falta frente à frente.
Escrito pela mão do secretário, que gostaria de estar nesse momento a sós com você e que é, e sempre será, o seu servo mais fiel e seguro.
H.R.

Cartas que Henrique VIII escreveu para Ana Bolena

Cartas que Henrique VIII escreveu para Ana Bolena [1º Parte]

A violência da paixão de Henrique VIII por Ana Bolena é comprovada pela sequência de cartas de amor que ele escreveu para ela. Todas são manuscritas. Ao todo, existem 17 cartas; nenhuma delas está datada. Embora várias referências internas ajudem a colocar as cartas numa espécie de ordem, esta só pode ser aproximada: autoridades têm divergido sobre os detalhes dessa ordem, desde a primeira edição impressa na Inglaterra, em 1714. Nove estão escritas em francês, provavelmente como medida de segurança, pois poucos ingleses desfrutavam da fluência daquela língua que Henrique e Ana possuíam. As cartas do rei acabaram misteriosamente na Biblioteca do Vaticano, em Roma, onde apareceram em fins do século XVII e ainda se encontram hoje. Lá, elas receberam de um arquivista desconhecido a numeração que é usada desde então: não há dúvidas de que ela não é cronológica. São várias as teorias sobre a maneira pela qual as cartas do rei chegaram a Roma: talvez um espião papal as teria roubado em 1529, já que não parece que o legado papal, cardeal Campeggio, tentasse contrabandeá-las, como certa vez foi sugerido. Outra possibilidade é de que as cartas tenham ficado na Inglaterra: poderiam, por exemplo, ter ficado em Hever , ter sido passadas pelo proprietário da época, o católico Edward Waldegrave, a um padre que ele estava protegendo e que as levou para Roma. 
As respostas de Ana Bolena às cartas desapareceram por completo. Sem dúvida, por motivos de segurança, o rei destruiu-as.
Como foi dito, as cartas foram traduzidas do francês para o inglês, e depois foram traduzidas por mim do inglês para o português. Com isso, é claro que muitas palavras tiveram sentidos mudados ou tenham tido interpretações diferentes.
Revolvendo-me no meu pensamento o conteúdo das vossas últimas cartas, eu me acho nos tormentos mais dolorosos, não sabendo se elas me são desfavoráveis, como compreendo em muitos pontos, ou favoráveis, como me parecem em alguns outros; eu vos suplico agora, com o mais intenso ardor, que me façais reconhecer inteiramente as vossas intenções, pelo que respeita ao amor entre nós dois.
É absolutamente preciso que eu tenha de vós essa resposta, porque há mais de um ano fui ferido pelo dardo do amor, e não sei ainda se tive mau êxito ou se acharei lugar no vosso coração e no vosso afeto, já que este último ponto impediu-me por algum tempo passado de chamá-la de minha amante, porque, se você só ama-me com um amor comum, esse nome não é adequado para você, porque se denota um amor singular, isso está longe de ser comum. Mas se lhe agradar cumprir o pape de uma verdadeira e leal amada e amiga, e entregar-se de corpo e coração a mim, que tenho sido, e serei, seu muito leal servidor ( se sua austeridade não mo impedir), prometo-lhe que não somente esse título lhe será concedido, mas também que a terei como minha única amada, banindo todas as outras que não você da minha mente e da minha afeição, para servi-la exclusivamente.Eu vos peço que deis uma resposta bem clara a esta minha rude carta , de modo que eu possa saber com que posso contar e até que ponto.  Se não lhe agradar responder por escrito, faça-me saber de algum lugar onde possa obter a resposta de sua boca, lugar onde hei de buscar com todo o meu coração.  Não acrescento mais nada, pelo temor de fatigar-vos.
Sem mais, por medo de te cansar.
Escrito pela mão daquele que seria de bom grado seu,
H.R.
Embora não seja apropriado para um cavalheiro levar sua dama em lugar de um servo, ainda, cumprindo com o teu desejo, eu ansiosamente lhe garanto, se encontrar-se menos desconfortável no lugar escolhido por você, que esteja no que eu lhe dou, a gradecendo-lhe cordialmente por você ainda estar satisfeita em ter uma lembrança de mim.
Embora, minha Senhora, não tenha sido adorável lembrar-se da promessa que me fez na última vez em que estive com você – que era de receber boas notícias tuas e uma resposta à minha última carta -, ainda parece-me que pertence a um verdadeiro servo (observando que, de outra forma, ele não pode saber de nada), para perguntas sobre a saúde de sua Senhora e para exercer as obrigações de um servo de verdade, eu lhe mando esta carta, rogando-vos que me ponha a par do teu bem-estar, que eu rezo a Deus que continue por tanto tempo quanto o que desejo a mim mesmo. E para causar-lhe ainda mais frequente lembrança de mim, mando-vos por este mensageiro um gamo morto pelas minhas mãos a noite passada, e espero que comendo-o pensareis no caçador. Por falta de espaço fecho a minha carta. Escrita pela mão do vosso servidor, que muitas vezes deseja que estivésseis no lugar de vosso irmão.
H.R.
Minha Senhora e amiga, meu coração e eu nos rendemos em suas mãos, rogando-vos para nos manter atrelados ao seu desejo, e que seu afeto por nós não possa ser diminuído: porque seria trágico aumentar ainda mais nossa dor, da qual a distância já produz mais do que eu poderia ter pensado que podia ser sentida, lembrando-me de um apontamento da astronomia que diz: quanto mais longos os dias são, mais distante está o sol e menos quente e assim é o nosso amor, por ausência somos mantidos em distância um do outro, e mesmo que ele mantenha seu fervor, pelo menos do meu lado, e espero que o mesmo de você, assegurando-lhe que a dor da ausência é grande demais para mim; e quanto penso no aumento disso que sou forçado a sentir, seria quase intolerante, mas pela firmeza de minha esperança em sua imutável afeição por mim: e para lembrar-lhe disso de vez em em quando, e observando que não posso estar presente em pessoa junto a você, envio-lhe a coisa mais próxima disso, isto é, meu retrato esculpido em braceletes, com todo o aparato, que já conhece, desejando estar no lugar deles, quando for de seu agrado.
Pela mão de seu fiel servo e amigo,
H.R.
Eu vos agradeço de todo o coração o presente que não poderia ser mais precioso, não só pelo valor do diamante e pelo batel em que é batida das ondas a solitária Donzela, mas sobretudo pela engenhosa interpretação e pela demasiadamente humilde submissão que a vossa bondade me fez; porque eu penso que me seria muito difícil achar a ocasião de merecê-la, se não fosse assistido da vossa grande bondade e do vosso favor, que tanto procurei, procuro ainda e procurarei sempre conservar por todos os meios ao meu alcance; esta é a minha firme intenção e esperança, segundo a divisa: aut illic aut nullibi *.
As vossas demonstrações afetuosas são tais, os delicados pensamentos da vossa carta são expressos tão cordialmente que me obrigam para sempre a honrar-vos, amar-vos e servir-vos sinceramente, suplicando-vos que persistais com firmeza e constância no vossos sentimento; e assegurando-vos que, de minha parte, não só vos corresponderei, mas, se possível, vos superarei em plena lealdade de coração.
Eu vos peço também que, se antes deste dia alguma vez vos ofendi, me concedais de bom grado aquele mesmo perdão que me pedís, e asseguro-vos que de agora em diante o meu coração será  dedicado só a vós; eu desejo que seja o mesmo com o meu corpo; Deus pode fazê-lo, se tal é a sua vontade; e eu lhe rogo todos os dias com esta intenção, esperando que a final das minhas preces serão ouvidas.
Eu espero que dentro em pouco poderemos tornar a ver-nos, mas o tempo me parecerá longo.
Escrita pela mão daquele que, de coração, de corpo e vontade, é
Vosso mais leal e fiel servidor
* “Que seja aqui, ou em lugar nenhum”.
À minha Senhora. Porque o tempo parece mais longo desde que soube sobre você e sua saúde, a tamanha afeição que tenho por você levou-me a enviar-lhe este portador, afim de melhor ser informado sobre sua saúde e sobre você, e porque, desde minha despedida de você, eu tenho dito que a opinião sobre eu ter te deixado mudou totalmente, e você não virá para a corte nem com a sua mãe, ou de qualquer outra forma, a notícia, se verdadeira, eu não poderia mostrar mais assombro, porque eu tenho certeza que nunca fiz nada para te ofender, parece-me compensação bem pequena do grande amor que vos dedico o ser conservado a distância da única mulher que mais estimo no mundo; e se você me ama com tanta afeição quanto eu espero, eu tenho certeza que a distância de duas pessoas seria um pouco maçante para você, embora isso não pertença ao amante como o servo.
Considerai bem, minha senhora, quanto me penaliza a vossa ausência; eu espero que isso não seja pela vossa vontade; mas, se estivesse certo de que vós o desejais, não me restaria mais do que lamentar-me da minha desgraça e tentar a pouco e pouco curar-me da minha loucura; e assim, faltando-me tempo para continuar, termino esta rude carta, suplicando-lhe para dar crédito a este portador de tudo que ele irá lhe dizer de mim.
Escrito pela mão do seu inteiro servo,
HR.

sábado, 27 de junho de 2015

Dinastia Tudor


Reportagem

Em Londres, com Henrique VIII

A capital inglesa conta, em seus castelos e monumentos, a história da dinastia Tudor, que mudou a Inglaterra e deixou suas marcas espalhadas pela cidade


Henrique VIII: seis casamentos e duas esposas decapitadas
Por Larissa Godoy

Seis séculos após sua ascensão, em 1485, a história da dinastia Tudor ainda pode ser conferida nos castelos e construções de época em plena capital inglesa. Para olhos atentos, um passeio por Londres é um festival de referências históricas e culturais importantes do tempo que representa, segundo a definição de John Morrill, professor de história britânica e irlandesa da Universidade de Cambridge, “a grande conexão entre os períodos medieval e moderno”.

O início da dinastia se deu com a conquista da Coroa inglesa por Henrique Tudor, que passaria a ser conhecido como Henrique VII, na Guerra das Rosas. O embate durou 30 anos e envolveu a casa real dos Lancaster e a dos York. O primeiro rei Tudor, representando os Lancaster, venceu Ricardo III, do lado dos York, na Batalha de Bosworth Field, e assim surgiu a dinastia que redesenhou o futuro do país.

O lugar exato em que teria acontecido a batalha, porém, é motivo de discordância entre os pesquisadores. Mas ela teria se realizado próximo ao local da coroação de Henrique Tudor, em Stoke Golding, segundo depoimentos de moradores do local.

A pequena vila fica a 164 km de distância de Londres e visitantes podem, hoje, ver marcas de ranhuras de espadas nas soleiras das janelas da Igreja Santa Margarida de Antioquia. Elas teriam sido feitas pelos soldados quando afiavam suas armas, antes da luta.

Apesar de iniciar uma nova dinastia no Reino Unido, Henrique VII, no entanto, fica obscurecido quando seu filho Henrique VIII entra em cena. Vale lembrar que o rei e chefe único da igreja no país quase não chegou ao trono britânico. Isso porque seu irmão mais velho, Artur Tudor, era o próximo da linha sucessória à Coroa. Seu óbito, com apenas 15 anos, no castelo de Ludlow, deixou livre para Henrique VIII o caminho do poder.

Além da coroa, o primeiro irmão Tudor legou também a sua esposa, a princesa da Espanha Catarina de Aragão, para Henrique. Com Artur, a nobre casou-se em 1501, na antiga igreja de Saint Paul, que, em 1666, seria destruída pelo grande incêndio de Londres. No seu lugar, uma réplica em estilo barroco foi construída e o nome original, mantido.

Durante o reinado de Henrique VIII, a catedral de Saint Paul presenciou o declínio do catolicismo na Inglaterra, retomado por pouco tempo com Mary – filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão – e novamente posto de lado com Elizabeth I – filha de Ana Bolena.

Na igreja, também está o túmulo de lorde Nelson, o comandante inglês na Batalha de Trafalgar, contra Napoleão, em 1805, a qual venceu, mas na qual foi ferido mortalmente. Enterrado com a madeira do navio francês que derrotou, o lorde leva em seu sarcófago um adorno de mármore preto feito originalmente para o cardeal Thomas Wolsey, durante o reinado de Henrique VIII, no início do século XVI. Wolsey foi um ator importante durante a dinastia Tudor, principalmente antes do rompimento da Inglaterra com a Igreja Católica. O religioso era o chanceler de Henrique, grande conselheiro político do monarca inglês e dono de muito poder e dinheiro.

Por muito tempo, foi Wolsey quem governou indiretamente o país. O fim do seu poderio chegou com a ascensão de Ana Bolena e diante do desejo de Henrique VIII de se divorciar de Catarina de Aragão, que não pôde lhe dar um filho homem

King Henry VIII Tudor











Henrique VIII (1491-1547) foi um rei inglês. Fundou a Igreja Anglicana. Foi o segundo rei da dinastia dos Tudor. Era o segundo filho de Henrique VII, tornou-se herdeiro e sucessor com a morte de Arthur, seu irmão mais velho. Tomou posse da Coroa inglesa em 1509. Nesse mesmo ano, casou com Catarina de Aragão, viúva de seu irmão Arthur e filha do rei espanhol Fernando de Aragão. Dos cinco filhos, apenas a Princesa Maria sobreviveu. Henrique VIII sentindo que a dinastia estava ameaçada, sem um filho homem, solicitou seu divórcio ao Papa Clemente VII. Seu pedido foi negado, pois a Igreja Católica proibia a separação. Com a ajuda do Arcebispo da Cantuária, seu divórcio foi efetivado. O rei se proclamou Chefe Supremo da Igreja na Inglaterra e fundou a Igreja Anglicana.
Henrique VIII (1491-1547) nasceu em Greenwich, nos arredores de Londres. Filho de Henrique VII, tomou posse em 1509, numa época de grandes conflitos entre Inglaterra e França. No mesmo ano casou-se com Catarina de Aragão, filha de Fernando de Aragão, rei da Espanha. O casal teve cinco filhos, mas apenas a Princesa Maria sobreviveu.
Henrique VIII sentindo que sua dinastia estava ameaçada, sem um filho homem para lhe suceder, e desejando romper o casamento com Catarina de Aragão, fez o pedido de divórcio ao Papa, mesmo sabendo que a Igreja Católica não permitia. O Papa Clemente VII recusou seu pedido. Com a ajuda de Thomas Cromwell, Arcebispo da Cantuária, o mais alto cargo eclesiástico da Inglaterra, o divórcio foi realizado. O Parlamento Inglês declarou que o direito divino dos reis substituía a autoridade da Igreja.
Henrique conseguiu o divórcio. Excomungado pelo Papa, se proclamou Chefe Supremo da Igreja na Inglaterra e fundou a Igreja Anglicana. Junto com seu novo ministro-chefe, Thomas Cromwell, dissolveu os mosteiros, aumentando o total de terras da Coroa. Estava consolidado definitivamente o absolutismo da monarquia ao separar-se da Igreja Católica.
O divórcio de Henrique VIII e Catarina de Aragão marcou o início da Reforma Inglesa. Em 1533 casa-se com Ana Bolena, dama de honra de Catarina, com quem teve apenas uma filha, Elizabeth I. O casamento durou apenas três anos. Sob a acusação de adultério, em 1536, Ana Bolena foi executada. Nesse mesmo ano Gales foi incorporado à Coroa inglesa.
Após a morte de Ana Bolena, casou-se com Jane Seymour. A nova rainha conseguiu que Henrique VIII aceitasse na Corte suas duas filhas, nascidas de casamentos anteriores. Após haver dado ao rei o tão esperado filho homem, a rainha morre, deixando o herdeiro Eduardo VI, que falece com apenas 17 anos.
O rei Henrique VIII parte para o seu quarto casamento. Em 1540 a filha do Duque de Flandres, Ana Cléves, é a nova rainha. Ana era pouco atraente, e por não satisfazer a um rei tão requintado, como era Henrique VIII, o casamento foi declarado nulo.
O Rei casa pela quinta vez. Uma jovem de dezessete anos, dama de honra, Catarina Howard, sobrinha do poderoso duque de Norfolk. A jovem procurou amenizar o caráter cruel do marido, mas quando sua conduta leviana foi revelada ao rei, este mandou decapitá-la.
Henrique VIII aos 50 anos, parecia envelhecido, mas não sabia viver sozinho. A dama da corte Catarina Parr atraiu-lhe a atenção. Era uma jovem viúva, graciosa, meiga, digna e afeiçoada aos filhos do rei. Foi sua sexta e última esposa. Catarina Parr viveu ainda cinco anos após a morte do rei.

Em 1541 Henrique VIII foi declarado rei da Irlanda. Os últimos anos do reinado de Henrique VIII foram tranquilos pela influência da boa e sábia Catarina Parr. Em 1547, sofrendo de uma grave infeção, morre no Palácio de Whitehall. Seu corpo foi sepultado na Capela de São Jorge, no Castelo de Windson.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Monarquia Absolutista

Introdução

Quase todos os países da Europa Ocidental passaram pelo processo de fortalecimento do poder central nos fins da Idade Média e início dos Tempos Modernos. Tal é o caso de Portugal, Espanha, Inglaterra e França. Nestes países, a tendência à centralização deu-se no plano nacional, isto é, as fronteiras do Estado tenderam a coincidir com os limites culturais da nação.
Itália e Alemanha igualmente tendem para a centralização do poder; só que na Itália, ao invés de um único Estado, correspondente aos limites da nação, houve a formação de numerosas unidades políticas, todas elas soberanas (isto é, independentes). Na Alemanha, as tendências se inclinaram de um lado para o Estado do tipo nacional, representado pelo Sacro Império Romano-Germânico; mas também acentuou-se o poder no plano local, representado pelos príncipes.
Na França, a descentralização e o localismo políticos, existentes durante grande parte da Idade Média, começam a ceder lugar à centralização do poder real, já nos séculos XIII e XIV. Para que este fortalecimento se configurasse plenamente, decorreriam cerca de três séculos. O caráter de centralização da Monarquia francesa é o mais típico, pois na França medieval o poder político adquiriu aspecto mais pulverizado. Foi também o Estado europeu que mais cedo iniciou o caminho do centralismo e aquele que conseguiu levar a centralização à suprema manifestação: o absolutismo. Por essas razões, o processo de centralização do poder monárquico na França será o nosso exemplo.

2. Condições para a centralização monárquica

Fatores socioeconômicos: a aliança rei-burguesia

Há uma estreita relação entre o desenvolvimento econômico europeu, principalmente da atividade comercial, e a centralização do poder real. De um lado, porque a economia mercantil gerou uma classe social nova — a burguesia — em condições de disputar aos aristocratas a primazia política. Por outro, há que se considerar a crise do feudalismo, que foi obrigado a mudar sua organização no sentido de se integrar na economia de mercado, então em fase de desenvolvimento. Isto provocou o enfraquecimento da nobreza feudal ligada à terra, proporcionando condições para a centralização monárquica.
Os comerciantes tinham interesse na centralização do poder político, na medida em que esta uniformizaria a moeda, pesos e medidas, poria fim à multiplicidade de barreiras dentro do país e proporcionaria à burguesia condições de expansão externa, concorrendo com os mercadores de outros Estados europeus. Em volta do rei, agrupavam-se os comerciantes de nível internacional, ligados ao comércio de importação e exportação — em suma, os que mais precisavam de sua proteção. Na Alemanha, os comerciantes localizados em áreas não pertencentes aos domínios imperiais tenderam a agrupar-se em torno dos senhores feudais locais, ou a se autonomizarem, tanto em relação ao rei quanto aos senhores locais. Este processo dá origem a “Repúblicas” independentes, controladas pela burguesia, principalmente pelo patriciado urbano; foi o que ocorreu em grande parte da Itália.

Fatores políticos e religiosos: os nobres e a Igreja perdem seu poder

Os fatores políticos também contribuíram para o fortalecimento do poder real. Já vimos que o enfraquecimento do poder senhorial teve como contrapartida os progressos do poder nacional, simbolizado pelos reis. No plano internacional europeu, evidencia-se neste período o declínio acentuado do poder universal, representado pelo Papado e pelo Império. Esse declínio resultou da Reforma Religiosa do século XVI, que abalou profundamente o poder papal, limitando em muito sua pretensão ao poder universal, que vinha manifestando durante a Baixa Idade Média. O abalo sofrido pelo poder papal com a Reforma afetou indiretamente o Império, pois o poder político imperial era criado pelo poder espiritual do Papado, através da cerimônia de sagração. Ora, a política dos príncipes alemães estava voltada para a fuga ao poder imperial e à constituição de um poder absoluto no plano local, com o apoio da burguesia. A crise do Papado deu-lhes a oportunidade de se arvorarem em chefes de seus principados até no plano religioso.
A falência do poder papal é talvez o dado mais importante do problema, porque facultou aos reis o controle das Igrejas nacionais e o recebimento das rendas eclesiásticas. Os tribunais do Papado, considerados pelo direito canônico a última instância julgadora em toda a Europa, cederam lugar aos tribunais reais, revestidos desde então da primazia judicial.

Fatores culturais

No plano cultural, devemos destacar o desenvolvimento dos estudos universitários de Direito, que deram origem aos legistas. Estes, preocupados em legalizar o poder real, apoiaram-se tanto no Direito Costumeiro Germânico quanto — e principalmente — no Direito Romano de Justiniano. O rei é colocado como fonte viva da lei, pois seu poder deriva de Deus, através do consentimento nacional.
O Renascimento, profundamente individual, estimulou o ideal nacional, do qual o rei é a própria representação material. O rei é visto como o herói nacional, defensor e protetor da nação. Por último, devemos levar em consideração o fato de que existia uma tradição de poder real hereditário, firmada durante a Idade Média, mesmo quando o poder real não tinha existência de fato, mas apenas de direito.

3. Mecanismos da centralização monárquica

Apoio da burguesia e política financeira do Estado

Existe uma seqüência lógica no comportamento real, com vistas à centralização. O problema inicial era obter o apoio da burguesia mercantil ligada ao comércio internacional, bem como da pequena burguesia local, pertencente ao domínio real, isto é, à área sobre a qual o rei exercia autoridade direta. Isso feito, a política tributária passava a ser aplicada. Arrecadavam-se impostos da burguesia, sequiosa de obter, em contrapartida, o apoio do poder real contra os nobres e contra os entraves que eles representavam para o comércio. Os impostos passaram a constituir importante fonte de renda do Estado. Com o desenvolvimento das nações, as tarifas alfandegárias fortaleceram esta arrecadação.
As necessidades financeiras do Estado levaram a uma política de emissão monetária, que contrariava os interesses comerciais porque provocava a elevação dos preços. Havia, entretanto, um aspecto positivo: a moeda real substituía as moedas locais cunhadas pelos senhores feudais, dando uniformidade ao meio circulante.

Fortalecimento militar: os exércitos nacionais

Possuindo recursos próprios, o rei, em nome do Estado, assalariava mercenários para seu exército. Os batalhões infantes, progressivamente, substituíram os cavaleiros. As próprias cidades compareciam, armadas à própria custa, para lutar ao lado do rei. O exército nacional começava a despontar. O código de cavalaria que regia os combates durante a Idade Média deixou de ser respeitado. O interesse do rei, isto é, do Estado, gradualmente fez prevalecer a moral do interesse coletivo em substituição à moral particular típica da Idade Média.
O exército real foi o instrumento por excelência da centralização, sendo empregado contra os nobres recalcitrantes em aceitar o poder real. Pouco a pouco, numerosos senhores foram submetidos, e o domínio real se expandiu.

A diplomacia

A diplomacia é outro instrumento da centralização. Os reis souberam usá-la com eficiência. Intrigavam os nobres entre si e depois anexavam as propriedades de ambas as partes. A razão de Estado começava a prevalecer.
Nas áreas retomadas aos nobres, representantes reais recebiam a incumbência de cobrar os impostos e distribuir a justiça; eram os bailios e senescais (denominações anteriormente atribuídas aos ministeriais dos senhores feudais.
O tribunal real era considerado superior aos tribunais feudais. Os condenados nesses tribunais locais poderiam apelar para o tribunal real, considerado última instância julgadora. Normalmente, os apelantes eram considerados inocentes, mediante contribuição pecuniária. Assim transformou-se a justiça em outra fonte de renda. O clero, que até então somente poderia ser julgado por tribunais eclesiásticos, passou a ser controlado pelo rei. Este impunha aos religiosos condenados por tribunais eclesiásticos um segundo julgamento num tribunal civil, onde poderiam ser condenados até à pena capital. As petições para julgamento em última instância no tribunal papal, que funcionava em Roma, foram canceladas.

A legitimação do poder absoluto

Ao mesmo tempo em que isto se dava, o monarca procurava legitimar seu poder. Estimulava o ensino universitário e os estudos das leis. Os legistas, funcionários reais, tanto se ocupavam da administração, quanto redigiam as leis do reino. Interpretavam o Direito Costumeiro, estudavam o Direito Romano, procurando extrair um conjunto legal que autorizasse o rei a exercer o poder absoluto. O rei era apontado como fonte viva da lei, pela ascendência divina do seu poder.