segunda-feira, 29 de junho de 2015

Cartas que Henrique VIII escreveu para Ana Bolena

Cartas que Henrique VIII escreveu para Ana Bolena [1º Parte]

A violência da paixão de Henrique VIII por Ana Bolena é comprovada pela sequência de cartas de amor que ele escreveu para ela. Todas são manuscritas. Ao todo, existem 17 cartas; nenhuma delas está datada. Embora várias referências internas ajudem a colocar as cartas numa espécie de ordem, esta só pode ser aproximada: autoridades têm divergido sobre os detalhes dessa ordem, desde a primeira edição impressa na Inglaterra, em 1714. Nove estão escritas em francês, provavelmente como medida de segurança, pois poucos ingleses desfrutavam da fluência daquela língua que Henrique e Ana possuíam. As cartas do rei acabaram misteriosamente na Biblioteca do Vaticano, em Roma, onde apareceram em fins do século XVII e ainda se encontram hoje. Lá, elas receberam de um arquivista desconhecido a numeração que é usada desde então: não há dúvidas de que ela não é cronológica. São várias as teorias sobre a maneira pela qual as cartas do rei chegaram a Roma: talvez um espião papal as teria roubado em 1529, já que não parece que o legado papal, cardeal Campeggio, tentasse contrabandeá-las, como certa vez foi sugerido. Outra possibilidade é de que as cartas tenham ficado na Inglaterra: poderiam, por exemplo, ter ficado em Hever , ter sido passadas pelo proprietário da época, o católico Edward Waldegrave, a um padre que ele estava protegendo e que as levou para Roma. 
As respostas de Ana Bolena às cartas desapareceram por completo. Sem dúvida, por motivos de segurança, o rei destruiu-as.
Como foi dito, as cartas foram traduzidas do francês para o inglês, e depois foram traduzidas por mim do inglês para o português. Com isso, é claro que muitas palavras tiveram sentidos mudados ou tenham tido interpretações diferentes.
Revolvendo-me no meu pensamento o conteúdo das vossas últimas cartas, eu me acho nos tormentos mais dolorosos, não sabendo se elas me são desfavoráveis, como compreendo em muitos pontos, ou favoráveis, como me parecem em alguns outros; eu vos suplico agora, com o mais intenso ardor, que me façais reconhecer inteiramente as vossas intenções, pelo que respeita ao amor entre nós dois.
É absolutamente preciso que eu tenha de vós essa resposta, porque há mais de um ano fui ferido pelo dardo do amor, e não sei ainda se tive mau êxito ou se acharei lugar no vosso coração e no vosso afeto, já que este último ponto impediu-me por algum tempo passado de chamá-la de minha amante, porque, se você só ama-me com um amor comum, esse nome não é adequado para você, porque se denota um amor singular, isso está longe de ser comum. Mas se lhe agradar cumprir o pape de uma verdadeira e leal amada e amiga, e entregar-se de corpo e coração a mim, que tenho sido, e serei, seu muito leal servidor ( se sua austeridade não mo impedir), prometo-lhe que não somente esse título lhe será concedido, mas também que a terei como minha única amada, banindo todas as outras que não você da minha mente e da minha afeição, para servi-la exclusivamente.Eu vos peço que deis uma resposta bem clara a esta minha rude carta , de modo que eu possa saber com que posso contar e até que ponto.  Se não lhe agradar responder por escrito, faça-me saber de algum lugar onde possa obter a resposta de sua boca, lugar onde hei de buscar com todo o meu coração.  Não acrescento mais nada, pelo temor de fatigar-vos.
Sem mais, por medo de te cansar.
Escrito pela mão daquele que seria de bom grado seu,
H.R.
Embora não seja apropriado para um cavalheiro levar sua dama em lugar de um servo, ainda, cumprindo com o teu desejo, eu ansiosamente lhe garanto, se encontrar-se menos desconfortável no lugar escolhido por você, que esteja no que eu lhe dou, a gradecendo-lhe cordialmente por você ainda estar satisfeita em ter uma lembrança de mim.
Embora, minha Senhora, não tenha sido adorável lembrar-se da promessa que me fez na última vez em que estive com você – que era de receber boas notícias tuas e uma resposta à minha última carta -, ainda parece-me que pertence a um verdadeiro servo (observando que, de outra forma, ele não pode saber de nada), para perguntas sobre a saúde de sua Senhora e para exercer as obrigações de um servo de verdade, eu lhe mando esta carta, rogando-vos que me ponha a par do teu bem-estar, que eu rezo a Deus que continue por tanto tempo quanto o que desejo a mim mesmo. E para causar-lhe ainda mais frequente lembrança de mim, mando-vos por este mensageiro um gamo morto pelas minhas mãos a noite passada, e espero que comendo-o pensareis no caçador. Por falta de espaço fecho a minha carta. Escrita pela mão do vosso servidor, que muitas vezes deseja que estivésseis no lugar de vosso irmão.
H.R.
Minha Senhora e amiga, meu coração e eu nos rendemos em suas mãos, rogando-vos para nos manter atrelados ao seu desejo, e que seu afeto por nós não possa ser diminuído: porque seria trágico aumentar ainda mais nossa dor, da qual a distância já produz mais do que eu poderia ter pensado que podia ser sentida, lembrando-me de um apontamento da astronomia que diz: quanto mais longos os dias são, mais distante está o sol e menos quente e assim é o nosso amor, por ausência somos mantidos em distância um do outro, e mesmo que ele mantenha seu fervor, pelo menos do meu lado, e espero que o mesmo de você, assegurando-lhe que a dor da ausência é grande demais para mim; e quanto penso no aumento disso que sou forçado a sentir, seria quase intolerante, mas pela firmeza de minha esperança em sua imutável afeição por mim: e para lembrar-lhe disso de vez em em quando, e observando que não posso estar presente em pessoa junto a você, envio-lhe a coisa mais próxima disso, isto é, meu retrato esculpido em braceletes, com todo o aparato, que já conhece, desejando estar no lugar deles, quando for de seu agrado.
Pela mão de seu fiel servo e amigo,
H.R.
Eu vos agradeço de todo o coração o presente que não poderia ser mais precioso, não só pelo valor do diamante e pelo batel em que é batida das ondas a solitária Donzela, mas sobretudo pela engenhosa interpretação e pela demasiadamente humilde submissão que a vossa bondade me fez; porque eu penso que me seria muito difícil achar a ocasião de merecê-la, se não fosse assistido da vossa grande bondade e do vosso favor, que tanto procurei, procuro ainda e procurarei sempre conservar por todos os meios ao meu alcance; esta é a minha firme intenção e esperança, segundo a divisa: aut illic aut nullibi *.
As vossas demonstrações afetuosas são tais, os delicados pensamentos da vossa carta são expressos tão cordialmente que me obrigam para sempre a honrar-vos, amar-vos e servir-vos sinceramente, suplicando-vos que persistais com firmeza e constância no vossos sentimento; e assegurando-vos que, de minha parte, não só vos corresponderei, mas, se possível, vos superarei em plena lealdade de coração.
Eu vos peço também que, se antes deste dia alguma vez vos ofendi, me concedais de bom grado aquele mesmo perdão que me pedís, e asseguro-vos que de agora em diante o meu coração será  dedicado só a vós; eu desejo que seja o mesmo com o meu corpo; Deus pode fazê-lo, se tal é a sua vontade; e eu lhe rogo todos os dias com esta intenção, esperando que a final das minhas preces serão ouvidas.
Eu espero que dentro em pouco poderemos tornar a ver-nos, mas o tempo me parecerá longo.
Escrita pela mão daquele que, de coração, de corpo e vontade, é
Vosso mais leal e fiel servidor
* “Que seja aqui, ou em lugar nenhum”.
À minha Senhora. Porque o tempo parece mais longo desde que soube sobre você e sua saúde, a tamanha afeição que tenho por você levou-me a enviar-lhe este portador, afim de melhor ser informado sobre sua saúde e sobre você, e porque, desde minha despedida de você, eu tenho dito que a opinião sobre eu ter te deixado mudou totalmente, e você não virá para a corte nem com a sua mãe, ou de qualquer outra forma, a notícia, se verdadeira, eu não poderia mostrar mais assombro, porque eu tenho certeza que nunca fiz nada para te ofender, parece-me compensação bem pequena do grande amor que vos dedico o ser conservado a distância da única mulher que mais estimo no mundo; e se você me ama com tanta afeição quanto eu espero, eu tenho certeza que a distância de duas pessoas seria um pouco maçante para você, embora isso não pertença ao amante como o servo.
Considerai bem, minha senhora, quanto me penaliza a vossa ausência; eu espero que isso não seja pela vossa vontade; mas, se estivesse certo de que vós o desejais, não me restaria mais do que lamentar-me da minha desgraça e tentar a pouco e pouco curar-me da minha loucura; e assim, faltando-me tempo para continuar, termino esta rude carta, suplicando-lhe para dar crédito a este portador de tudo que ele irá lhe dizer de mim.
Escrito pela mão do seu inteiro servo,
HR.

Nenhum comentário:

Postar um comentário